Episiotomia: o que é e quem deve ou não fazer
Por Suprevida
É difícil imaginar que algo tão grande quanto a cabeça de um bebê é capaz de sair do que parece ser um espaço relativamente pequeno: o canal vaginal. Mas, durante o parto normal, a região que fica entre o ânus e a vagina, chamada de períneo, se estende para permitir a passagem da cabeça do bebê.
Nem todo trabalho de parto é tranquilo. Muitas vezes, o bebê apresenta sinais de sofrimento, porque tem dificuldade para fazer o encaixe na bacia da mãe e depois ser expulso pelo canal vaginal. Outras vezes, o parto necessita ser realizado rapidamente para não colocar a saúde da mãe em risco.
Quando algumas dessas situações acontecem, o médico costuma recomendar o corte do períneo com uma tesoura cirúrgica para aumentar a abertura da vagina para facilitar a saída do bebê. Esse procedimento é chamado de episiotomia ou pique, na linguagem popular. “A ideia era aliviar a tensão nas fibras musculares no períneo. Depois, a fissura era fechada. Acreditava-se que isso preservava a musculatura da mulher”, relata Ricardo Porto Tedesco, membro da comissão de assistência ao parto da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Para muitas mulheres, a episiotomia é sinônimo de sofrimento após o parto. Muitas delas sofrem traumas após depois de terem o bebê, isto é, o corte sofre uma extensão (a chamada laceração), necessitando, inclusive, terem de sentar-se sobre travesseiros ou almofadas confortáveis até que o corte cicatrize - o que, para muitas, leva um tempo considerável.
Pode causar traumas
Esse é exatamente o tipo de coisa que os obstetras esperavam evitar quando começaram a realizar episiotomias rotineiramente na década de 1920. Até os anos 1970, mais ou menos, os defensores da episiotomia diziam que o corte profilático do períneo ajudava a prevenir rasgos naturais naquela região, relativamente comuns especialmente quando o bebê é grande.
Eles também diziam que a incisão artificial seria mais fácil de reparar e cicatrizaria melhor do que uma lesão natural do períneo ocorrida durante o parto. Apesar de não haver muitas provas do que eles diziam, o procedimento ficou extremamente comum em todo o mundo.
No início dos anos 1980, por exemplo, 63% de todos os partos realizados nos Estados Unidos incluíam episiotomia, e a taxa era ainda maior entre as mulheres que haviam dado à luz pela primeira vez.
Os médicos agora reconhecem que as episiotomias rotineiras podem fazer mais mal do que bem. Primeiro, ela não evita lacerações graves. Alguns estudos inclusive sugerem que ela aumenta o risco de lacerações.
Também não há evidências de que as episiotomias cicatrizam mais rapidamente do que um rasgo natural do períneo ocorrido durante o parto. Rasgos naturais ocorrem em 40% a 85% de todas as mulheres que fazem parto vaginal, de acordo com um estudo publicado no Journal of Midwifery and Women's Health.
Outra complicação acontece quando os pontos dados logo depois do parto não são feitos corretamente. Quando isso ocorre, há risco de fibrose, de dor e de perda da sensibilidade na região. Mais do que isso, o procedimento está associado a complicações de longo prazo, como a incontinência fecal, pois a episiotomia pode levar à frouxidão na região do períneo.
Segundo Ricardo Tedesco, esse é um procedimento agressivo que também pode gerar hematomas e infecção. “O próprio trabalho de parto já pode afetar a musculatura do períneo. Realizar a episiotomia não muda a condição anatômica da região após o nascimento do bebê. Além disso, ela provoca um grande desconforto no pós-parto. O músculo é sensível, então a mulher passa a sentir dor para sentar”, alerta o especialista à revista Saúde.
Episiotomia seletiva
Não existe uma recomendação para abolir de vez a episiotomia, mas de restringi-la apenas a algumas situações. A Organização Mundial de Saúde (OMS), em manual de assistência ao parto publicado em 1996, aconselha a realização da episiotomia em situações como sofrimento fetal, progresso insuficiente do parto e lesão iminente de 3º grau do períneo - ou seja, lesão natural, decorrente do parto.
De acordo com a OMS, não mais do que 10% dos partos devem envolver a episiotomia.
Assim, o procedimento, que era rotineiro, passou a ser considerado seletivo. Ou seja, não fazer episiotomia deve ser a primeira opção, segundo a Febrasgo. No entanto, há muita discussão sobre as reais indicações desta incisão. Esse também é o entendimento do Ministério da Saúde.
No Brasil, apesar de ter havido uma queda do número de procedimentos, ainda estamos muito longes do ideal. Uma pesquisa feita em 2018 pela Baby Center com 3.500 mulheres apontou que 33% dos partos normais envolveram a técnica. Na edição anterior, de 2012, esse número chegava a 71%.
A recomendação hoje é de que a episiotomia só seja pedida quando o feto é muito grande e está demorando para nascer por causa do períneo. E quando ela é indicada, recomenda-se a técnica mediolateral. Imagine uma linha reta ligando a vagina ao ânus. Em vez de a incisão ser feita nessa linha reta, ela é feita num ângulo de 60 graus, o que reduz o risco de lesões pós-parto.
Dá para evitar?
A episiotomia é requisitada pelo médico quando a cabeça do bebê está aparecendo, na hora do parto. É nessa hora que ele avalia a real necessidade de fazer o procedimento, para não causar sofrimento ao bebê nem à mãe.
Mas é possível ter uma ideia de se ela será necessária na época do pré-natal. Mães diabéticas, por exemplo, tendem a gerar filhos pesados e grandes, o que poderá ser um sinal de que a episiotomia poderá ser necessária.
Especialista e gestante poderão inclusive conversar a respeito antes do parto. A mãe tem todo o direito de recusar - a não ser que a vida do bebê ou dela mesma estejam em risco.
Alguns hábitos, desde que praticados de forma regular, podem ajudar a fortalecer a região pélvica, reduzindo as chances de a futura mãe passar por uma episiotomia. Pratique atividades físicas regularmente. A Suprevida sempre fala sobre a importância da prática de exercícios. Malhe com regularidade, especialmente se está pensando em engravidar.