Por que diabéticos, hipertensos e fumantes têm mais risco de complicações com o Coronavírus
Por Suprevida
O mundo está prestes a chegar a 192 mil casos registrados e 8 mil mortes, segundo o último boletim da Organização Mundial da Saúde (OMS), do dia 18 de março. No Brasil, já são 428 casos confirmados e quatro mortes – três em São Paulo e uma no Rio de Janeiro.
O último balanço do Ministério da Saúde, do dia 17 de março, porém, dava conta de 291 infectados. De fato, o Ministério da Saúde está sendo mais lento na atualização dos dados.
A primeira morte confirmada, assim como as duas anunciadas no dia 18, chamaram a atenção. As vítimas eram homens com alguma condição crônica de saúde. A primeira vítima tinha diabetes e hipertensão.
Desde o início da pandemia, autoridades de saúde vêm batendo na tecla de que os sintomas são mais graves em idosos e em quem tem alguma doença crônica.
Mas por que isso acontece? Os cientistas dizem que ainda é muito cedo para saber com absoluta certeza por que algumas pessoas ficam mais doentes do que outras, mas as pesquisas realizadas na China, país em que o vírus apareceu pela primeira vez, já possibilitam ter algumas ideias. Nenhuma delas é definitiva.
Sintomas mais graves
A gravidade maior dos sintomas no grupo de risco parece ter a ver com o quão bem o nosso sistema de defesa (o sistema imunológico) está para lutar contra o vírus. "O vírus é importante, mas a resposta do organismo do doente é ainda mais importante", disse Stanley Perlman , especialista em virologia e doenças infecciosas pediátricas da Universidade de Iowa (Estados Unidos), à revista The Scientist.
Por razões que ainda não estão bem claras, idosos e pessoas com doenças crônicas podem ter sistemas imunológicos “problemáticos”, ou seja, que não funcionam tão bem. Isso pode causar uma resposta imune descontrolada, desencadeando no pulmão uma superprodução de células de defesa e de substâncias químicas chamadas citocinas. São essas substâncias que convocam o exército de defesa (as nossas células brancas do sangue) para a batalha contra o vírus.
"É quando muitas pessoas com essas doenças crônicas acabam tendo respostas realmente graves, como pneumonia, falta de ar, inflamação das vias aéreas e assim por diante", contou Angela Rasmussen, virologista da Universidade Columbia (Estados Unidos) à mesma revista.
Para se ter uma ideia, pesquisas realizadas na China, primeiro país a relatar o novo vírus, sugerem que o risco de complicações é de 2 a 3 vezes maior em diabéticos. É importante frisar que esses são dados iniciais e que ainda são necessários mais estudos.
Outras pesquisas, também chinesas, descobriram que pessoas infectadas com o novo coronavírus e que já tinham uma doença crônica tiveram 1,8 vez mais chance de ter um agravamento da doença, de terem de ser colocadas em ventilação mecânica ou de morrerem. E quem tinha duas doenças crônicas teve 2,6 mais probabilidades de ter um agravamento da sua condição.
É bom lembrar que o diabetes – principalmente se ele não estiver bem controlado –, além de afetar o sistema imunológico, pode contribuir para o surgimento de hipertensão. Níveis altos de açúcar no sangue podem levar ao endurecimento das artérias e ao aumento da pressão.
Hipertensos
Além da questão do sistema imunológico, há uma nova teoria circulando entre os médicos. Hipertensos estariam mais suscetíveis a apresentar um quadro mais grave de COVID-19 porque os remédios para pressão alta favoreceriam a ação do novo coronavírus.
A cardiologista Ludhmila Abrahão Hajjar, diretora de Ciência, Tecnologia e Inovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) explicou à revista Saúde que para infectar as células, o vírus usa uma enzima chamada ECA-2 e alguns remédios usados pelos hipertensos elevam justamente as taxas dessa enzima, o que poderia facilitar a multiplicação do vírus.
Mas cuidado! Essa é uma teoria que ainda não foi comprovada. “Esses estudos são preliminares e esses medicamentos são fundamentais para o paciente cardíaco e para os hipertensos de forma geral controlarem a doença. Interromper o uso agravará a condição que eles já têm, além de aumentar o risco de infarto e outros problemas graves”, afirmou o cardiologista Cláudio Domênico ao jornal O Globo.
Por isso, quem tem problemas cardíacos e hipertensão não deve de forma alguma interromper o uso de seus remédios conhecidos como inibidores de enzima conversora de angiotensina e bloqueadores de receptores de angiotensina sem consultar o seu médico primeiro.
Também não se deve parar de tomar aspirina, a não ser por orientação médica – como é o caso quando há suspeita de dengue.
Até que haja mais confirmações, a Sociedade Brasileira de Cardiologia e as demais sociedades internacionais da área não recomendam a interrupção dos remédios sem prescrição. Só é preciso que você tome os devidos cuidados com atenção redobrada.
Os médicos alertam: pessoas com doenças crônicas e idosos devem buscar seus médicos apenas se apresentarem algum sinal de infecção. Fazer uma consulta médica nesse momento só aumenta o risco de contrair o vírus.
Agora, se houver uma piora dos sintomas, como falta de ar ou dificuldade para respirar, a recomendação é buscar um hospital imediatamente.
Doenças crônicas pulmonares e fumantes
O SARS-CoV-2 é um vírus novo e ainda há muito a descobrir sobre ele. Pesquisadores do mundo todo trabalham sem parar para buscar respostas a acelerar a chegada de uma vacina.
Muitas evidências já acumuladas até o momento sugerem que o tabagismo “apaga” a ação do sistema de defesa nos pulmões e desencadeia inflamação nos pulmões, de acordo com reportagem da revista Scientific American.
Além disso, fumantes de longa data e usuários de cigarro eletrônico correm um risco maior de desenvolver doenças pulmonares crônicas, que já se sabe estarem associadas a casos mais graves de COVID.
“Pessoas que fumam têm um sistema imunológico mais enfraquecido. Elas produzem mais muco nas vidas aéreas, o que não permite que os pulmões sejam tão limpos. Elas também sofrem mudanças que estimulam inflamação; suas células do sistema de defesa também são alteradas. Tudo isso junto faz com que elas sejam mais propensas a ser infectadas e também a apresentarem a forma mais grave da doença”, explicou Robert Tarran, professor de biologia celular e fisiologia da Chapel Hill (Estados Unidos) à Scientific American.
Por que tomar vacina contra gripe é importante
Tomar a vacina de gripe este ano é ainda mais importante quando se pensa em saúde pública. Não se trata só de proteger os idosos, grupo mais suscetível de ter complicações sérias.
Em tempos de COVID-19, a vacinação é essencial para não sobrecarregar a rede pública de saúde. Mais do que isso. Quem toma a vacina torna mais fácil para o especialista descartar gripe do quadro de sintomas, além de evitar que alguém que já está enfraquecido por causa de uma gripe fique mais debilitado pelo coronavírus se por acaso ele vier a ser infectado. É bom lembrar que os sintomas do novo coronavírus são muito parecidos com os da gripe, entre eles febre alta e mal-estar.
Bom saber também que não há testes que indicam o COVID-19 para todo mundo, por isso é fundamental que todos façamos a nossa parte, ajudando o sistema público de saúde a não ficar lotado de “suspeitos”. Em princípio, hospitais públicos e privados vão privilegiar quem já passou do quadro leve de coronavírus.
A Campanha Nacional de Vacinação começa dia 23 de março. Converse com o seu médico a respeito da vacina e se é indicado para você que é idoso ou tem doença crônica ir até uma Unidade Básica de Saúde para se vacinar.